O tempo das coisas
- Postado por Tainara Oliveira
- Categorias Artigos, Filosofia Clínica
- Data 30 de janeiro de 2020
Hoje vou contar uma história sobre o tempo das coisas. Será que certos acontecimentos em nossas vidas teriam um tempo exato para acontecer? Grandes eventos na vida ocorreriam em uma data preestabelecida por nós, por outros, ou pela sociedade? Fatos importantes, acontecem no tempo agendado e com hora marcada?
Talvez algumas pessoas realmente encarem a vida assim: tempo de aprender, tempo de amar, tempo de doar, tempo de meditar, tempo de aventurar, tempo de sofrer, tempo de acreditar, tempo de desistir, tempo de sonhar… Para tais pessoas, existe um tempo exato para se viver certas coisas na vida e, como sempre repetimos, não há nada de errado com isso, é uma maneira de orientar a vida, uma característica. Mas por vezes, essa rigidez na agenda da vida pode ser uma causa de frustração para algumas pessoas, quando os fatos desejados não acontecem no tempo em que elas haviam determinado.
Você já deve ter ouvido frases como: “ah, meu tempo de estudar já passou”; “aprender é mais fácil quando se é criança, depois de velho fica difícil”; “sou jovem demais ou velho demais para viver um grande amor”; “meu tempo já passou pra tal coisa”; “só depois de………………… é que vai chegar meu tempo de fazer tal coisa”; “A gente só pode fazer isso até X anos, depois não dá mais”; “agora já é tarde demais para tal coisa, perdi meu tempo”; etc.
Se os Pré-juízos acima fazem parte daquilo que constitui a Estrutura de Pensamento da pessoa e conversam autogenicamente com os demais tópicos e, tudo funciona bem e em acordo com o que a pessoa é de fato, ok! Mas do contrário, quando se verifica que estes exemplos de Pré-juízos podem estar associados a sintomas como angústias, desconfortos, incômodos que não cumprem nenhum papel na existência da pessoa e destoam da autogenia, ou seja, a resultante da conversação dos tópicos estruturais da pessoa, então nesses casos, a reflexão sobre o tempo das coisas pode ser um alento.
Porém este é um texto introdutório, só faz menção ao tema e não traz dados suficientes para fazer qualquer afirmação. Em Filosofia Clínica, cada caso é estudado de acordo com a Historicidade da pessoa e todas as variantes e especificidades que advém daí.
Como exemplo do tema, vou contar um trecho da história de uma pessoa que passou parte da vida dizendo que não gostava de nada, que não sabia do que ela gostava para se sentir realizada. Dizia assim: “Se Deus deu um talento pra cada um, quando chegou na minha vez, Ele se esqueceu!” Faltando poucos anos para se aposentar, depois de episódios banais do dia a dia, como os de sair sempre procurando por costureiras para fazer pequenos ajustes nas roupas que comprava, certo dia, ao ver uma máquina de costura num preço promocional, decidiu-se de súbito, e comprou, pensando que faria pequenos consertos nas roupas.
Para sua própria surpresa, começou a costurar e costurar sem parar, encontrou aulas online, assistia tutoriais, matriculou-se numa aula semanal e quanto mais costurava, mais gostava e mais sentia a necessidade de costurar. Ficava surpresa consigo mesma, em pouco tempo, já estava fazendo suas próprias roupas, presenteava amigas e familiares com as peças que estava fazendo. As amigas das suas amigas, logo ficaram sabendo, e assim, em torno de uns dois meses surgiram as primeiras encomendas, em pouco tempo, já tinha conquistado algumas “clientes” que já estavam repetindo os pedidos. E estava feliz da vida com a nova atividade, que chegou na vida sem data agendada, nem hora marcada.
Depois ela me contou que havia tido contato com a costura na infância, disse que naquele tempo, naquela Base Categorial, máquinas de costura eram comuns nas casas das famílias, e que com isso, algumas crianças aprendiam a costurar naquele contexto. Contou-me algumas histórias envolvendo a costura na sua infância, algumas até muito engraçadas, com isso, fiquei pensando: quem sabe, estava tudo lá, ocluso e guardado em alguma área remota da Estrutura de Pensamento dela e, nesse tempo, sabe-se lá o porquê, veio à tona?!
Essa história me fez lembrar de uma biografia que considero inspiradora, a da americana Mary Kay Ash que somente após se aposentar começou a empresa de cosméticos dos seus sonhos. Há muitas biografias, desde as famosas, até as anônimas, que vêm na contramão do tempo marcado pelos agendamentos sociais e culturais.
Cada vez mais, tomamos contato com histórias de pessoas que estão se libertando das crenças (pré-juízos), ou termos agendados sobre o tempo predeterminado das coisas e, quando tais crenças são como grilhões a lhes aferroar a alma, saber disso pode ser simplesmente libertador, principalmente nos casos de pessoas que possuem tópicos Epistemológicos como determinantes, para as quais “saber”, “conhecer”, “entender”, ocupam lugar destacado em suas Estruturas de Pensamento.
Por outro lado, essas questões não apresentam relevância alguma nos casos em que o aspecto temporal é irrelevante. Lembrando sempre que a Categoria Tempo, é uma das categorias que fazem parte dos Exames Categoriais, que são vistos atrelados à Historicidade.
Agora é com você, conhece alguma história sobre o desenrolar do tempo nas coisas da vida? É possível ajustar a alma às crenças de calendário? Segue a vida a cronologia do relógio? É o tempo que direciona a vida, ou a vida que direciona o tempo? É o tempo que constrói os caminhos ou os caminhos é que fazem o tempo? Qual o poder do tempo, na minha vida, afinal?
Sobre Tainara Oliveira: Filósofa Clínica pelo Instituto Packter e Especialista em Coordenação Pedagógica pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. É professora adjunta da Pós-graduação em Filosofia Clínica em Florianópolis (Instituto Packter). Graduada em Pedagogia pela Universidade do Contestado – UnC e em Filosofia pelo Instituto Packter. Possui Aperfeiçoamento na filosofia de Ortega y Gasset e de Lúcio Packter na Universidade de Sevilha – Espanha. Site: https://www.clinicasaobento.com/
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