Princípios da Filosofia do Futuro – Ludwig Feuerbach
Ludwig Feuerbach, 1804- 1872.
Princípios da Filosofia do Futuro, Grundsätse der Philosophie der Zukunft, 1843.
A essência do cristianismo (1841) é completada por Teses provisórias para a reforma da filosofia (1842) e por Princípios da filosofia do futuro (1843), obras que são publicadas por Julius Fröbel em Zurique.
Feuerbach esboça aqui um universo sensacionista (o pensamento é produto da apreensão do real pelos sentidos) e altruísta (o homem é compreendido por sua relação com outrem). Princípios, em sessenta e cinco pontos publicados em forma de uma brochura, têm a missão de “deduzir da filosofia do absoluto, ou seja, da teologia, a necessidade da filosofia do homem, ou seja, da antropologia”.
O além da religião é o aqui da filosofia, o que faz da filosofia especulativa a teologia consequente e racional. A filosofia de Hegel é a realização plena da filosofia moderna, de tal modo que a filosofia do
futuro passa, antes de mais nada, por uma crítica a Hegel. Por isso, é preciso pensar o ser tal qual ele é, por nós que somos não só seres pensantes como também seres realmente existentes: o ser, como objeto de conhecimento por outrem, é o ser dos sentidos, da intuição, do sentimento e do amor.
Enquanto a antiga filosofia (Hegel) diz que “só o racional é verdadeiro e real”, a filosofia do futuro (Feuerbach) proclama que “só o humano é verdadeiro e real”, pois só o humano é racional. Não se apóia numa razão sem ser, sem cor, sem nome, mas na razão impregnada do sangue do homem.
A essência do homem reside unicamente na comunidade, na unidade do homem com o homem que repousa na distinção entre mim e ti. É aí que se encontra a verdadeira dialética (o diálogo entre mim e ti), o princípio supremo (a unidade do homem com o homem). Até então, havia uma verdade para
si mesma (a filosofia) e uma verdade para o homem (a religião); a filosofia nova assume o lugar da religião. Isso explica por que a tarefa filosófica dos tempos modernos é a resolução da teologia em antropologia; ela tem por missão “trazer a filosofia de volta do reino” das almas mortas “para o reino das almas vivas; fazê-la descer da beatitude do pensamento divino e sem carências para a miséria humana”.
Edição portuguesa: Princípios da filosofia do futuro e outros escritos, Lisboa, Edições 70, 1988.
Estudo: A. Arvon, Feuerbach, sa vie, son oeuvre, P.U.F., 1964.