A Lógica do Ser Vivo – François Jacob
FRANÇOIS JACOB
A LÓGICA DO SER VIVO, Uma história da hereditariedade, La logique du vivant, 1970.
Michel Foucault dizia: “A mais notável história da biologia que já foi escrita.” História da biologia, e não apenas, como indica o subtítulo, uma história da hereditariedade. François Jacob estuda a maneira como os saberes biológicos se constituem desde o Renascimento: o conhecimento do ser vivo
progride elevando-se à compreensão de “níveis” sucessivos na estrutura dos organismos. As “estruturas visíveis” são explicadas pela organização interna (cujo último elemento é a célula), “os cromossomos e os genes, estrutura de ordem três oculta no coração da célula”, são responsáveis pela organização. Por fim, “a molécula de ácido nucléico, estrutura de ordem quatro, determina hoje a conformação de todo organismo, suas propriedades, sua permanência ao longo das gerações”. A consideração desses níveis sucessivos de integração tem como consequências a afirmação da unidade profunda do mundo vivo, a rejeição a qualquer reducionismo e uma atenção particular à dimensão histórica. A “lógica do ser vivo” é, pois, integradora e diacrônica.
Mas o conhecimento dessa lógica e um processo lento e complexo, pois não poderia haver “uma história linear das ideias”.
Uma época só pode elaborar seus modelos científicos no interior de uma concepção geral do mundo, concepção que pode obstar o conhecimento. Sente-se nisso a influência de Bachelard e Foucault.
Pela inteligência epistemológica de suas análises e por sua erudição, a Lógica do ser vivo marcou época na história e na filosofia das ciências biológicas. A notoriedade de seu autor, professor no Collège de France, prêmio Nobel de medicina em 1965 com André Lwoff e Jacques Monod, contribuiu para fazer desse livro a grande obra de referência. Foi publicado no mesmo ano que
Acaso e necessidade, de Jacques Monod, que explora problemáticas vizinhas, mas
diferentes. François Jacob é também autor de numerosos artigos e de dois outros livros: Jogo dos possíveis (1981), que é um “Ensaio sobre a diversidade do ser vivo”, e Estátua interior (1986), que propõe uma autobiografia do homem e do cientista.
Estudo: F. Jacob, La statue interieur, col. “Folio”, Gallimard, 1990.