Ideia de Princípio em Leibniz Evolução da Teoria Dedutiva – José Ortega y GASSET
José Ortega y GASSET, 1883-1955.
Ideia de Princípio em Leibniz Evolução da Teoria Dedutiva,
La Idea de Principio en Leibniz y la Evolución de la Teoría Deductiva, 1958.
Essa obra póstuma e inacabada apresenta o conjunto mais sistemático da crítica da racionalidade positiva em que diligenciou o autor que promoveu um “raciovitalismo” -propondo como princípio fundamental de explicação do universo “minha vida”, e a razão “vital” como única capaz de analisar esta última, para além de quaisquer formas
de razão puramente lógica e positivista. Aluno do neokantiano Hermann Cohen em Marburgo, Ortega y Gasset rompe com essa orientação em 1914 e deixa de pensar a realidade como um sistema de relações.
Dedica-se então – à maneira de Husserl, mas em outras bases – à resolução da “crise da racionalidade ocidental” e descobre a vida como “realidade radical”. Seu autor predileto é Leibniz, e seu antimodelo Aristóteles. E explica de que maneira, com o matematismo leibniziano, o modo de pensar moderno deu um salto decisivo à frente.
Compara-o ao aristotelismo, tomado como síntese dos modos de pensamento antigo e medieval, caracterizados, segundo ele, por um sensacionismo básico (Aristóteles fundamenta tudo na sensação e pensa os dois “nous” conforme o modelo da matéria), pelo dogmatismo dos princípios (Aristóteles se compraz com as evidências não demonstradas, como exemplo o princípio de não-contradição), e por um ontologismo permeado de contradições internas que deteve o conhecimento. O autor pretende destruir a ideia de que o aristotelismo seja um espiritualismo, como sua posteridade tomista tende a fazer crer; nele, vê mais um empirismo integral. Com “ a hiperlucidez extra-humana” de Leibniz, eliminam-se os últimos resíduos pré-críticos, atecipando a época contemporânea. É verdade que Leibniz enunciou um número excessivo de princípios, mas não é “principialista”: insiste na necessidade de provar os princípios, e os emprega de maneira flexível e operatória.
No Apêndice, Ortega analisa o “otimismo” leibniziano, que convém a seu gosto de filosofia “jovial”, de tom confiante. Estuda-o em relação ao “princípio do melhor” mostrando que difere em tudo e por tudo do princípio da philosophia perennis: Leibniz não afirma que o mundo é bom, mas que é o menos mau possível; inaugura, na verdade, o pessimismo moderno!
É no capítulo IX (“O nível de nosso próprio radicalismo”) que o autor depreende os pontos fundamentais de sua própria perspectiva, situando-se em relação ao neokantismo, a Dilthey e a Heidegger, à fenomenologia e ao existencialismo.
Estudo: A. Guy, Ortega y Gasset, col. “Philosophes de tous les temps”, Seghers, 1969.