Introdução à Filosofia – Karl Jaspers
Karl Jaspers, 1883-1969.
Introdução à Filosofia, Einführung in die Philosophie, 1950
Essa obra, que é das mais conhecidas de Karl Jaspers, condensa em forma muito acessível a experiência filosófica adquirida pelo autor no exercício da psiquiatria e na reflexão crítica sobre o pensamento de Descartes, de Husserl, de Wilhelm Dilthey e sobretudo de Kierkegaard e de Nietzsche, aos quais dedicou várias obras.
Interrogando-se sobre a natureza da filosofia, Jaspers dá uma primeira resposta: ao contrário do conhecimento científico, que é o mesmo para todo entendimento, a filosofia brota da fonte original do eu. Só a experiência pessoal permite ter acesso a ele. Mas ela comporta também a exigência da
comunicação de homem a homem. Para Jaspers, a filosofia não pode ser negada nem demonstrada, mas apenas comunicada.
Os sistemas filosóficos históricos, quer se trate de materialismo, idealismo ou seus compostos, fazem do ser uma realidade exterior ao sujeito. Sempre há, na vida pensada, uma cisão sujeito-objeto. O que essa cisão revela é a realidade suprema de um “englobante” que, por sua vez, não é nem objeto nem sujeito. Por esse conceito designa-se o ser em totalidade, surgindo o eu
como seu sujeito, totalidade em cujo âmago a consciência desmembra objetos. O pensamento realiza, pois, dois rasgos no ser. O místico procura atingir o próprio englobante cortando todos os elos com os objetos e com o sujeito. Mas essa tentativa de abrir-se para o absoluto é incomunicável.
As grandes metafísicas milenares expressam o absoluto de Deus, mas através de uma linguagem cifrada. A reflexão filosófica, por sua vez, deve abster-se de tomar o símbolo da realidade por realidade tangível. Isso seria cair no dogmatismo ou na superstição. Deus é objeto de decisão e de fé. Fundamento de minha existência e de minha ação, ele permanecerá sempre como Deus oculto e indemonstrável para meu entendimento.
O pensamento de Jaspers será essencial na abordagem filosófica de Martin Heidegger.
Estudo: A. Kremer-Marietti, Jaspers et la scission de l’être, Seghers, 1974.