Permita que as Coisas te encontrem!
Provavelmente você conhece alguém que anda meio desanimado com a vida, desmotivado com o trabalho, ou com algum problema de saúde, ou talvez sofrendo em um relacionamento afetivo ou pela falta de um, ou qualquer outro problema da mais variada ordem que, em Filosofia Clínica, trata-se de uma queixa, a qual chamamos de Assunto Imediato.
Não existe receita ou fórmula pronta capaz de ensinar a qualquer pessoa a lidar com os mais diversos Assuntos Imediatos que possam existir. O que existe é a diversidade de pessoas, cada qual, com uma história de vida única, com suas especificidades circunstanciais, sendo que, mesmo que se “nomeie” os problemas com os mesmos nomes (desmotivação, somatização, dificuldade de relacionamento, etc), cada pessoa o vivencia de uma maneira que lhe é exclusiva.
É por isso, que aquilo que funcionou para um, pode se tornar um verdadeiro desastre para o outro, é preciso ter cuidado com promessas de solução para os problemas pessoais. Antes de tudo, seria mais indicado conhecer a própria Estrutura de Pensamento para descobrir, dentre uma infinidade de coisas, o que mais irá se adequar com a história de vida na hora de lidar com o problema em questão e, se for o caso, o que será feito para resolvê-lo, ou esquecê-lo, ou entendê-lo, ou ressignificá-lo, ou aceitá-lo, ou transformá-lo, ou reconstruí-lo, ou qualquer outro verbo…
O Assunto Imediato é a queixa imediata, o sintoma que aparece, normalmente é o que faz a pessoa procurar o consultório do Filósofo Clínico. E isso não é o que será trabalhado, pelo menos de início. O que será trabalhado é o Assunto Último, que é aquele que aparecerá na Historicidade e diz respeito a toda uma existência e não a um único ponto.
Às vezes o Assunto Último poderá coincidir com o Assunto Imediato, outras vezes, o trabalho acerca do Assunto Último fará “desaparecer” o Assunto inicial, e outras vezes, será ainda, outras coisas… Não há uma regra.
Rafaela contou para sua amiga Cláudia que conseguiu superar um estado depressivo há alguns anos fazendo aulas de boxe. Cláudia que diz também ter o “mesmo” problema da amiga, fez uma aula experimental em uma academia e não gostou, pois aquilo não tinha nada a ver com ela. Saindo da aula, pelo corredor da academia, sentiu um perfume de incenso que lhe chamou a atenção e, isto sim, tinha tudo a ver com ela, perseguiu o cheiro e encontrou aulas de Yoga e práticas de meditação. Cláudia decidiu experimentar e têm se sentido subjetivamente melhor há algumas semanas.
Rômulo é um estudante do Ensino Médio e estando para entrar na faculdade têm se sentido com muitas dúvidas sobre qual curso escolher, leu um livro que – segundo ele, o ajudou com este dilema. Indicou o livro para o seu amigo Fabrício que também se dizia com o “mesmo” problema da indecisão diante da escolha por uma graduação. Fabrício foi à livraria comprar o livro indicado pelo amigo, enquanto pagava pelo livro, viu uns folders no balcão, um deles chamou sua atenção: era o de uma palestra sobre como fazer escolhas na vida. Fabrício decidiu ir a esta palestra na semana seguinte. Nem chegou a ler o livro indicado pelo amigo, mas foi graças a esta palestra que dentre cinco opções que Fabrício estava em dúvida, descartou três e agora só precisará decidir entre duas.
Dois exemplos de duas amigas e dois amigos que se percebiam com os mesmos problemas (Assunto Imediato), e para cada um, os caminhos encontrados foram diferentes. Mas sobre isso, já falamos no início do texto, agora eu gostaria de usar esses mesmos dois exemplos para ilustrar um novo aspecto: as coisas que nos encontram por afinidades…
Cláudia não saiu procurando por aulas de Yoga ou meditação, ela nem se quer sabia que isso poderia fazer com que ela se sentisse melhor, foi o perfume do incenso que encontrou seu nariz andando pelo corredor da academia, ela identificou que isso tinha a ver com ela e o seguiu, até que encontrasse as aulas de Yoga e a prática de meditação que, tão bem lhe fizeram.
Fabrício estava comprando um livro e seus olhos ficaram atraídos por um convite de uma palestra sobre o balcão do caixa da livraria. Ele se permitiu ir à palestra, já que algo muito lhe atraiu, embora ele não soubesse explicar ou entender, a palestra que ele estava procurando – sem saber, encontrou por ele, gentilmente, através de um convite impresso em um balcão.
Parece tão comum, hoje em dia, a ideia de que somos nós que temos que fazer tudo, resolver nossas questões diante dos problemas naturais da vida, fazendo com que o “Eu” seja o responsável e quem sempre vai ao encontro das coisas. E por que não deixar que as coisas é que venham até nós?
Se conseguir, tente fazer um exercício de imaginação e pense nas coisas todas tendo vida própria, tanto quanto você tem. Imagine “as coisas” tendo volições e procurando por pessoas na qual sua realização máxima terá acolhida.
Por exemplo, imagine uma flor na vitrine de uma floricultura esperando que os olhos da pessoa “especial” a vejam, que essa pessoa entre na floricultura e a leve para a casa, exatamente onde a flor deseja ir. A pessoa pode achar que foi ela que escolheu aquela flor, mas e se foi a flor quem a escolheu? Não que isso importe, quem escolhe quem, mas é algo para se pensar para desmistificar a ideia do “Eu” como o grande centro de tudo… E deixar a vida fluir de um modo mais leve.
Experimente “brincar” o jogo das coisas que te escolhem, faça um teste inofensivo, nada de coisas grandiosas para começar. Inicie com algo simples como um passeio a uma livraria e imagine qual livro escolherá você para que seja o seu leitor? Quem sabe quando for a um restaurante, ao invés de olhar o cardápio e dizer “Eu escolho comer isso”, imagine qual prato do cardápio escolheu você para degustá-lo.
Algumas pessoas talvez não consigam lidar com esta ideia, e tudo isso lhes pareça absurdo. Isso é natural, não é para todos. Mas para os que acharam interessante, talvez esta ideia tenha escolhido você… Para estes, comecem fazendo um teste simples e os resultados falarão por si mesmos!
Os caminhos podem ser surpreendentes, os horizontes se ampliam pois não existe somente um pontinho no mundo que é você escolhendo as coisas, mas milhares de pontinhos que são as coisas escolhendo você. Ou seja, as possibilidades se multiplicam. Alguns não precisarão buscar por uma “solução” para seu “problema”, a solução é quem estará procurando por você!
Existem pessoas que saem à procura de grande amor, como se dependesse exclusiva e unicamente delas encontrar a pessoa ideal; também existem grandes amores por aí, procurando pelas pessoas certas para vivê-los em sua plenitude. Você acha que é você que escolhe um relacionamento, ou a relação quem escolheu você para que pudesse acontecer? Ao longo da vida, quem foram as pessoas que você escolheu? E quem foram as pessoas que escolheram você para elas?
Não se trata somente de uma questão sobre quem é que escolhe e quem é escolhido, vai muito além, os limites da razão dificultam as explicações. A tentativa de explicar racionalmente não permite que haja vida onde julgamos com a nossa própria razão não haver racionalidade. Seria a vida somente aquilo que a nossa razão consegue esquadrinhar?
Há mundos tão pequenos, pois acreditam ser o “Eu” o centro de tudo. Permita-se que as coisas que têm a ver contigo te encontrem por afinidades e a existência poderá se mostrar mais rica, cheia de possibilidades e, de repente, algo te encontra: talvez não será o que você estava buscando, mas será exatamente aquilo de que você precisava e, quem sabe, será muito melhor do que você poderia ter imaginado e impossível de cogitar hoje via razão (tópico 10 da Filosofia Clínica).
Se orientar por um único tópico da Estrutura de Pensamento é mais ou menos como ter uma velha bússola rudimentar que só aponta para o sudoeste e é preciso calcular as outras direções conforme a pessoa que a utiliza se movimenta. Agora imagine que há outra pessoa cuja Estrutura de Pensamento funciona como os sofisticados sistemas de GPS que existem hoje, conforme ela se movimenta um sinal de satélite a localiza e com base em suas escolhas e atividades via internet, o Google pode lhe sugerir locais próximos que talvez sejam do seu interesse com base naquilo que é acessado por ela.
A primeira pessoa do exemplo, cuja EP lembra uma velha bússola está com sede e faz muito calor, mas ela está calculando para que direção deve seguir a fim de encontrar algo para beber, ela acredita que talvez encontre uma sorveteria ao norte, mas não tem certeza se o cálculo está correto…
A segunda pessoa cuja EP se assemelha aos avançados sistemas tecnológicos dos nossos dias, está no seu carro voltando do trabalho, o GPS online lhe mostra as condições do trânsito à frente e sugere as melhores rotas e tempo de chegada até sua casa, o Google informa a temperatura, faz frio 10ºC com previsão de diminuir ainda mais à noite; “Que tal um chocolate quente ou um fondue?” – Pergunta-lhe um aplicativo de celular, informando que há uma chocolateria a 5 minutos da sua localização atual. A pessoa clica no anúncio e toda a linha de chocolates meio amargo está com 50% de desconto, e é o favorito dela, veja só que sorte! Então ela diz ao aplicativo: “Ok, me leve até lá!”
Existiriam “aplicativos” embutidos na Estrutura de Pensamento capazes de fazer tais proezas? Sistemas de GPS internos que localizariam uma pessoa existencialmente, tal como: “Você está aqui, existem 4 melhores caminhos para chegar ao destino que você deseja, conforme este mapa da sua existência. O que você prefere?”
Parece incrível? Acho que não! Se foi a mente humana que conseguiu conceber toda a tecnologia que existe hoje, utilizando-se da ciência e da razão, imagine até onde ela poderá ir quando ultrapassar os limites da velha bússola da racionalidade?
Incrível mesmo, é quando uma Estrutura de Pensamento decide substituir a velha bússola interna rudimentar, por um sistema mais tecnológico, condizente com a atualidade. Aí sim, “coincidências” extraordinárias passam a acontecer!
Como já nos ensinou Mário Quintana em um querido poema, que o segredo não é correr atrás das borboletas, mas cultivar o seu jardim para que elas é que venham até você. E ele concluiu este poema dizendo que “no final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você”.