Como nasce uma Estrutura de Pensamento?
Na Filosofia Clínica, EP é como chamamos abreviadamente a Estrutura de Pensamento. O estudo da Estrutura de Pensamento é feito através da Historicidade de vida de cada pessoa, vinculada às Bases Categoriais (Lugar, Circunstância, Tempo, Relação e Assunto), ou seja, a Historicidade ligada ao contexto de vida de cada um.
Uma EP de um bebê, quando nasce nesse mundo, já vem parar em determinado contexto pronto: certa sociedade tal como está, local em que nasce, determinados pais, a relação que as pessoas ao seu redor têm com este novo ser, etc. São as Bases Categoriais, ou o contexto no qual a EP de certo bebê nasceu.
A partir disso, começará uma história de vida para este bebê, quando adulto, ele poderá contar sua própria história vida, escolherá fatos, editará lembranças, selecionará o que quiser e, a isto, é o que chamamos de Historicidade: a história de vida, contada pela própria pessoa. Não necessariamente os fatos em si, mas a edição dos fatos feita pela pessoa.
Quando o filósofo Lúcio Packter sistematizou a Filosofia Clínica, ele estruturou a EP em 30 Tópicos Estruturais[1] e 32 Submodos[2], sendo que eles se associam entre si, ao infinito, se rearranjam, criam amálgamas sem nome, que se apresentam apenas pelo fenômeno. Tudo isto é o que é estudado nos cursos de Pós-graduação em Filosofia Clínica ainda hoje.
Não quer dizer que qualquer EP, terá todos estes Tópicos e Submodos sistematizados por Lúcio Packter durante anos de pesquisa, alguns terão mais peso subjetivo que outros, uns talvez serão inexistentes, algumas pessoas por exemplo, não têm quaisquer vestígios do Tópico Emoções – e esta é uma afirmação que costuma ser polêmica para quem não é familiarizado com a Filosofia Clínica. O Filósofo Clínico é um pesquisador da alma humana, irá justamente investigar quais Tópicos e Submodos estão envolvidos e como se constitui cada EP. E isso é feito pela Historicidade da pessoa.
Qual a lembrança mais remota da sua história de vida? Você lembra de ter “nascido” gostando de algo sem que tenham lhe ensinado? Como nasceram em ti, tudo aquilo que hoje faz parte do que você é?
Você, amig@ filósof@, que adora livros e café, por acaso já viu um bebê de 9 meses, gostando disso talvez tanto quanto você? Pois há pais que já viram e me contaram, (inclusive filmaram para provar): viram o filho deles engatinhando sozinho até os livros; saiu do quarto, explorando a própria casa, até passou por alguns brinquedos pelo caminho, sem dar nenhuma atenção, chegou à biblioteca da casa, segurou-se nas prateleiras da estante e ficou passando as mãozinhas pelas lombadas dos livros com carinho e encantamento, como se mais nada existisse entre ele os livros, sem que os pais nunca tivessem lhe ensinado a fazer isso; assim também como nunca lhe ensinaram que café era bom (embora tomassem na frente dele) e viram olhinhos suplicantes de quem não quer “papinha”, mas que anseia por um só golinho da xícara de café que tomava a mamãe, nisso viu-se o riso, aquele riso de boca aberta, com olhos voltados para o céu, que resume o que podemos chamar do Lugar em que a felicidade mora, depois logo veio o choro, querendo mais e mais café, batendo mãos e pés: “Café não é coisa para bebês, meu filho, um dia você poderá tomar!” – Disseram-lhe os pais, impressionados com o interesse do filho de menos de ano de idade, por uma xícara de café. Se isso fará parte da Historicidade desse bebê, não sabemos, pois não é uma história de vida que será “contada” conforme os fatos que os pais acham interessante, mas aquilo que realmente será significativo para a própria pessoa, contado a partir de seu próprio mundo; claro, que as vezes, há quem constitua seu próprio mundo conforme os fundamentos da família, mas não é uma regra.
Em Novembro de 2017, durante um evento de Imersão em Prática Clínica, conversava com uma grande amiga, filósofa clínica, e ela me falava de suas impressões sobre uma mina que explora pedras preciosas, sobre todo o trabalho grandioso que é feito em gigantescas rochas, sobre como olhando por fora, não dá pra imaginar o que existe lá dentro… Assim também é, o trabalho do Filósofo Clínico que quando olha para uma EP, nem imagina o que existe lá dentro, há muitas EPs que escondem preciosidades e, talvez nem saibam, Filósofos Clínicos podem ser como exploradores, que de uma rocha “feia” retiram as “melhores” pedras; há EPs que se sentem sem nenhum valor, pois não sabem que poderiam se tornar verdadeiras joias, se assim o quisessem, ou lhes fosse producente, bastando apenas um processo de lapidação que revelaria o brilho que já nasceu com a própria EP. Qual é o brilho que nasceu com sua EP?
[1] Tábua de Tópicos da EP
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- Como o mundo parece (fenomenologicamente)
- O que acha de si mesmo
- Sensorial & Abstrato
- Emoções
- Pré-juízos
- Termos agendados no intelecto
- Termos: universal, particular, singular
- Termos: Unívoco & Equívoco
- Discurso: Completo & Incompleto
- Estruturação de raciocínio
- Busca
- Paixões dominantes
- Comportamento & Função
- Espacialidade: Inversão
Recíproca de inversão
Deslocamento curto
Deslocamento longo - Semiose
- Significado
- Padrão & Armadilha conceitual
- Axiologia
- Tópico de singularidade existencial
- Epistemologia
- Expressividade
- Papel existencial
- Ação
- Hipótese
- Experimentação
- Princípios de verdade
- Análise da estrutura
- Interseções de estrutura de pensamento
- Dados da matemática simbólica
- Autogenia
[2] Tábua de Submodos da EP
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- Em direção ao termo singular
- Em direção ao termo universal
- Em direção às sensações
- Em direção às ideias complexas
- Esquema resolutivo
- Em direção ao desfecho
- Inversão
- Recíproca de inversão
- Divisão
- Argumentação derivada
- Atalho
- Busca
- Deslocamento curto
- Deslocamento longo
- Adição
- Roteirizar
- Percepcionar
- Esteticidade
- Esteticidade seletiva
- Tradução
- Informação dirigida
- Vice-conceito
- Intuição
- Retroação
- Intencionalidade dirigida
- Axiologia
- Autogenia
- Epistemologia
- Reconstrução
- Análise indireta: Função
Ação
Hipótese
Experimentação - Expressividade
- Princípios de verdade
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