As combinações que você jamais usaria se Pensamentos ou Emoções fossem roupas
Maria recebeu um convite para ser madrinha de um casamento e está muito ansiosa escolhendo vestidos, planejando tudo o que usará no dia da cerimônia. Ela está preocupada com a roupa que vestirá no dia do casamento, com o penteado do cabelo, com a maquiagem e com tudo o que fará parte da sua aparência física. Para ela, isso é algo bastante importante, é a forma de Maria de lidar com essas questões.
Se você perguntar para ela às vésperas da cerimônia: “E então, Maria, como você irá ao casamento?” Provavelmente, Maria lhe falará sobre o modelo e a cor do vestido escolhido, sobre os sapatos e acessórios que usará de acordo com alguma tendência da moda, etc. Mas, pouco provável que ela lhe fale que cuidou das suas emoções para estar em paz, sabendo que estes eventos a deixam um tanto nervosa, pois ela tem questões mal resolvidas no passado quanto ao seu próprio casamento e, toda a vez que participa como convidada de uma cerimônia, velhos “fantasmas da memória” vêm atormentá-la.
Maria cuidou de todas as questões de organização da sua rotina, como tirar uma folga do trabalho, pois precisará viajar 8 horas para chegar até a cidade na qual acontecerá o casamento de seus amigos, e todo o restante relacionado à aparência física, nos mínimos detalhes. Tudo isso é o que Maria sabe sobre o que é preciso para ir a um evento. Todo o restante, ela desconhece. Não sabe que poderia cuidar de si, antes mesmo de ir ao casamento, a fim de acalmar suas emoções que sempre ficam mexidas depois de participar de uma cerimônia de casamento.
Se Maria soubesse disso, acredito que sairia mais tranquila após a cerimônia, sem os sintomas de mal-estar que a afligem no dia seguinte e que, ela não sabe identificar de onde ou o porquê vêm.
Assim como ela escolheu um vestido para usar, que fosse bonito, que tivesse a ver com seu estilo e que vestisse bem em seu corpo, destacando os pontos fortes da sua beleza, poderia ter escolhido usar suas próprias emoções com mais beleza, escolhido pensamentos que tivessem mais afinidades com seu estilo de ser e, na medida do possível, ir trabalhando os Tópicos da sua Estrutura de Pensamento (EP), de modo que os tópicos mais fortes pudessem auxiliar aos mais frágeis, ou atenuar os choques entre os tópicos, de maneira semelhante a como ela faz para combinar as cores ou modelos das roupas.
Maria sabe que determinada roupa não combina com certo tipo de calçado, mas Maria ainda não aprendeu que determinada Emoção não combina com certo tipo de Pensamento, por exemplo. Se cada tópico da Estrutura de Pensamento de Maria que estavam sendo “usados” antes, durante e uns dias após o evento, fossem transformados em uma peça de roupa, acredito que Maria se envergonharia de ter ido ao casamento de seus amigos “usando” tal combinação tópica: duas camisetas, uma por cima da outra e nenhuma roupa na parte de baixo, nada de calça ou saia para vestir, nem mesmo roupa íntima, deixando à mostra aquilo de que não deveria, um único sapato do seu ex-marido, grande a lhe cair do pé esquerdo e, no pé direito, apenas uma meia extremamente velha, ainda da infância, já furada no dedão de tanto usar e, para arrematar a produção da “vestimenta tópica”, uma joia cara no pescoço, bem grande com pedras coloridas, daquelas de chamar bastante a atenção…
Vamos analisar essa analogia entre tópicos e roupas que Maria usou. As duas camisetas iguais eram desnecessárias, só uma era o suficiente, já que as duas tinham a mesma finalidade, o que Maria no fundo precisava era de um casaco, para a proteger do frio que lá fazia; ela deixou vulnerável, uma parte de sua intimidade que não podia andar por aí à vista de todos, como Maria não tinha um tópico de base para usar como sapato, ainda usava um que pegou da Interseção com seu ex-marido, mas como o tópico/sapato era dele e não dela, não lhe servia direito, ficava folgado e, além do mais, não combinava com ela de modo algum. Usar um Tópico ou Submodo que funciona bem em outra pessoa, em nós, pode ser como usar um sapato que não serve direito em nosso pé. Para cada pé, o seu próprio sapato; para cada EP, seu próprio Tópico ou Submodo. A meia velha que, de tanto usar, como algo da infância que não lhe servia mais, furou no dedão: é aquele velho Tópico que não acompanhou o desenvolvimento dos demais tópicos da EP, pode ser uma Emoção infantil, por exemplo, a mesma velha atitude que Maria tinha aos 5 anos de idade, que continua tendo agora que tem 50 anos. Imagine o que é continuar usando a mesma meia que usava desde os 5 anos até agora tendo 50? Uma meia desgastada que chegou a rasgar e, por isso, constrange, uma só meia que se perdeu do par, que se perdeu no tempo, de uma criança em um pé de um adulto, um tópico infantil demais para toda uma Estrutura de Pensamento, cuja idade já vai muito além… E por fim, o colar de pedras raras, uma joia cara que Maria ostenta no pescoço, não combina em nada com todo o resto, pelo contrário, seu brilho só chama a atenção para toda a confusão da composição de “roupas/tópicos” usados por Maria, ficaria melhor sem ele… Alguns convidados do casamento talvez olhem, e se perguntem: ‘o que aquele colar tá fazendo ali no meio daquilo tudo? Não faz sentido!’ A joia pode ser um tópico bastante aprimorado, que andou muito além dos demais, ao contrário da meia velha da infância, pode ser um excelente raciocínio, tópico 10 da Estrutura de Pensamento, cravejado em puro brilhantismo intelectual, por exemplo. Como um colar caríssimo está no pescoço do mesmo corpo cujo pé está usando uma meia furada no dedão, a mesma que é usada há 45 anos, sem tirar uma única vez?
Isso não é estranho, por mais que pareça engraçado, é comum. Se pudéssemos ver as pessoas andando pelas ruas vestindo seus tópicos como se fossem peças de roupas, calçados e acessórios, ficaríamos impressionados com algumas combinações. Elas não sabem disso, e nós, estudantes de Filosofia Clínica e que somos privilegiados em tomar contato com tais conhecimentos, precisamos ter carinho e respeito para com essas pessoas, se for o caso, ensinar que uma joia cara, não combina quando usada junto de uma meia furada, que certos tópicos que serviram aos 5 anos de idade, não servem mais aos 50, que não é possível usar um Tópico ou Submodo de uma outra pessoa, precisamos encontrar o que seja perfeito para cada um de nós, às vezes, o filósofo clínico precisa levar seu partilhante para “comprar sapatos”, auxiliar escolhendo a numeração, o modelo que combine com o estilo da pessoa, que lhe seja confortável, indicar um novo tópico ou submodo para a pessoa se proteger do frio quando preciso for, tal como a mãe que lembra o filho de levar um casaco, caso o tempo faça frio; e, também de cuidar das Bases Categoriais, de aprender que na nossa sociedade dos dias de hoje, não é possível mostrar alguma nudez, como ir a uma festa de casamento sem usar uma calça ou vestido. Há gente vulnerável, andando nu por aí na nossa sociedade, a história da humanidade está cheia disso, há os que viraram grandes artistas, há uns que foram trancafiados em hospitais psiquiátricos, inclusive até uns que talvez tenham sido considerados filósofos… Há de tudo!
Por fim, há muitas Marias, muitos Joãos e muitos de nós mesmos, precisando aprender quais Tópicos e Submodos devem “vestir” em suas Estruturas de Pensamento. Se alguma vez na vida, você já perguntou: “Com que roupa que eu vou?” Da próxima vez, tente: “Com que Tópico eu vou?” ou “Qual Submodo que eu uso?”.