O Imaginário – Sartre
O IMAGINÁRIO, L’imaginaire, 1940.
Jean- Paul Sartre, 1905-1980.
O autor trata do poder que tem a consciência de criar o irreal e daquilo que disso resulta: o imaginário. Com postura fenomenológica, é evidenciada a “estrutura intencional” da imagem: criar o irreal é uma intenção da consciência imaginante. A imagem é uma relação da consciência com o objeto. As propriedades do objeto são, nesse contexto, idênticas às da imagem. Há três tipos de consciência: a percepção, que “apreende” o objeto, o pensamento, que não o apreende, e a imagem, que tem mais de pensamento que de percepção.
A consciência imaginante não precede seu objeto. No ato que a constitui, ela o coloca como um nada: ele é imaginário. Reage-se ao objeto como se ele existisse. Na imagem ativa, há uma distância entre imagem percebida e imagem criada. O objeto é representado pelo retrato, pela caricatura ou pela imagem simples. É determinado literalmente, por imitação ou esquematismo. A consciência imaginante está, pois, associada a um procedimento psíquico que funciona como equivalente do objeto. É o “análogon”, que o autor diz não poder circunscrever completamente; assim, esse estudo é colocado por Sartre sob o signo do provável. De que é feito então o análogon? De um “saber” (para constituir-se, a imagem precisa de um conhecimento do objeto, de uma intenção “afetiva” também, que a imagem une ao saber; de uma “impressão cinestésica” ou movimento formador da imagem; por fim, da própria palavra, que designa o objeto.
Afora o problema do análogon, a imagem desempenha um papel importante na vida psíquica. Ela tem função simbólica, ou “presentificadora” (que faz o objeto aparecer por compreensão simbólica). Ela engendra uma vida imaginária, em que os objetos irreais formam um “antimundo”. Cinde o eu (real/imaginário), e pode ter também consequências patológicas, na alucinação e na obsessão. Mas, por outro lado, faz sonhar e permite a criação artística. Em definitivo, a imagem conduz Sartre a uma “tese de irrealidade”.
Nesse estudo, o autor tira proveito da influência exercida pela fenomenologia husserliana sobre sua obra e de suas descrições da consciência transcendental. A problemática do imaginário, ao mostrar uma faculdade transcendente da consciência, reforça duas ideias mestras do existencialismo sartriano: o distanciamento em relação ao real e seu corolário, a liberdade, teses com as quais o autor marcou seu século.
Estudo: F. Jeanson, Sartre, col. “Ecrivains de toujours”, Le Seuil, 1974.