Razão e Revolução – Herbert Marcuse
HERBERT MARCUSE, 1898-1979.
RAZÃO E REVOLUÇÃO,
Hegel e o surgimento da teoria social,
Reason and Revolution. Hegel and the Rise of Social Theory, 1941.
Como indica o subtítulo, nessa obra Marcuse procura reconstituir o vínculo histórico que permitiu passar de Hegel ao nascimento da teoria social. Analisando a obra de Hegel, o autor repõe a filosofia alemã em seu contexto histórico: a Revolução Francesa é a origem do advento da Razão, porque pela primeira vez “o homem confiou em seu espírito”. O espírito revolucionário, ou espírito de contradição, é o motor do sistema hegeliano, depois de ter dado origem às filosofias de Kant, Fichte e Schelling. Para Hegel, o mundo objetivo constitui-se a partir da subjetividade; o movimento dialético situa a realização do sujeito dentro da realidade objetiva e dá origem ao Sistema no qual “o indivíduo se torna universal”. Mas esse “pensamento dialético é necessariamente destruidor”, pois, ao se afirmar, o homem dissolve o mundo para fazê-lo seu. A “negação”, categoria central em Hegel, alicerça o conhecimento. “A liberdade é essencialmente negativa; e a existência é ao mesmo tempo a alienação e o processo através do qual o sujeito volta para si compreendendo e dominando a alienação.” Mas, segundo Marcuse, o sistema de Hegel não está concluído: ainda é preciso aplicá-lo à realidade social. Marx repara essa deficiência e, retomando os conceitos de alienação e negação, mostra que a organização capitalista, devido às suas leis de produção, é alienante. Ora, para o indivíduo o trabalho constitui o meio de desenvolver “sua essência universal”; por isso, deve tornar-se uma “atividade livre e consciente”. A coerção nega própria essência do homem. “A negatividade da sociedade capitalista reside na alienação do trabalho; a negação dessa negatividade virá com a eliminação do trabalho alienado.”
Escrito em 1939, esse livro procura responder ao fascismo, denunciando todos os totalitarismos (entre os quais o autor inclui o positivismo de Comte). De origem judaico-alemã, Marcuse fugira do nazismo já em 1934, indo morar nos Estados Unidos. Mas esse texto constitui também um primeiro esboço do pensamento de Marcuse sobre a sociedade contemporânea (apóia-se na descoberta da sociologia). Retomando as análises de sua tese (orientada por Heidegger) sobre Hegel (1932), a tentativa que se encontra em Razão e revolução de realizar uma “filosofia concreta” só dará resultados em 1964, com O homem unidimensional,verdadeira revolta contra as instituições opressivas.
Edição brasileira: Razão e Revolução: Hegel e o advento da teoria social, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978.
Estudo: J.-M. Palmier, Herbert Marcuse et la nouvelle gauche, Belfond, 1973.