Ser e Ter – Gabriel Marcel
SER E TER, Être et avoir, 1935.
Gabriel Marcel, 1889-1973.
Essa obra é dividida em duas partes. A primeira, intitulada “Ser e Ter”, constitui a seqüência do Diário metafísico, com o “Esboço de uma fenomenologia do Ter”. A segunda contém três estudos sobre o tema “Fé e Realidade”. A distinção entre o Ser e o Ter aparece no Diário metafísico ( 16 de março de 1923). Ter é poder dispor de, ou possuir um poder sobre, mas esse modo de ter implica a interposição do corpo. Ademais, Marcel destaca a tensão que opõe a interioridade à exterioridade no fato de ter. Tensão entre o tenho e a coisa que tenho. Mas essa tensão se manifesta também no que o filósofo chama de tragédia do Ter. Isto porque o corpo é o ponto de referência do Ter, mas o que possuo faz, de algum modo, parte de mim, ao mesmo tempo que não faz realmente parte, pois posso perder o que tenho, mas nem por isso deixar de existir. Há, pois, uma ambigüidade fundamental no cerne da noção de Ter. Assim, Marcel liga o Ter à ansiedade, ao desejo, ao sofrimento, à escravidão, à morte.
Contudo, é possível sublimar o Ter em Ser, pois convém considerar o Ter não como exterior ao Ser, mas como constituinte de uma maneira de existir. Assim, essa sublimação do Ter em Ser é possível modificando-se essa maneira de existir. Da posse bruta e maciça, pode-se passar para uma espécie de criação pessoal. Uma coisa à qual estamos vitalmente ligados transforma-se em “matéria perpetuamente renovada de uma criação pessoal”. Marcel toma o exemplo do jardim para quem o cultiva, ou do instrumento musical para o intérprete. Aí, o objeto não é mais apenas possuído; ele é como sublimado em ser. Torna-se prolongamento da interioridade. “Onde houver criação pura, o ter como tal será transcendido ou ainda volatilizado no bojo dessa criação.”
Essa obra é essencial para a compreensão do pensamento de Marcel. Contém uma tentativa de explicitação do tema fundamental do pensamento do filósofo.
Estudo: M.-M. Davy, Un philosophe itinerant: Gabriel Marcel, Flammarion, 1959.
1 Comentário
Aprendi a amar o conhecimento e a gostar de estudar, por causa de Filosofia, quando eu tinha uns 15 anos e cursava o Magistério. Até então, eu era uma estudante entediada, que só passava raspando. Não tinha o menor prazer de estudar, pois não via graça naquela decoreba. Só comecei a me interessar depois que comecei a aprender a pensar, a perceber os nexos e as relações entre as coisas, graças à filosofia. Aquilo me instigou a curiosidade para sempre. Sou da tribo que defende que a Filosofia tem de ser adotada na grade curricular desde o ensino fundamental. Não é só conhecimento teórico, mas também funcional, pra ser usado na prática. Sou testemunha de que a reflexão filosófica, já me salvou várias vezes. Então a minha convicção é : use Filosofia, no seu dia a dia.
Considero importante a sua aplicação em terapias e tratamentos que possam aliviar o sofrimento, desde que seja com seriedade, de forma multidisciplinar até e sempre com muito critério. Muito bacana esse trabalho.
Maria Helena Fessel Caldas
Historiadora / Especialista em Projetos
de Patrimônio Cultural, Ecoturismo Histórico e Capacitação de Comunidades em Turismo Sustentável