Alimentando a alma
No entardecer o sol pinta com uma luz dourada as primeiras nuvens de um grande bloco de algodão-doce que se estende até as montanhas ao longe. As nuvens superiores, lá no topo desse encadeamento, contrastam com o céu azul, ficando nas cores que vão de laranja rosado, amarelo e quente, até chegar nas nuvens inferiores, mais arroxeadas e acinzentadas profundas, que tocam as montanhas escuras que emolduram o mar.
Minha alma de pintora é alimentada pelas gradações perfeitas que a natureza é capaz de criar magicamente em poucos instantes. As tempestades de fim de tarde, tão comuns no verão, contribuem para um pôr-do-sol que é uma verdadeira explosão de cores.
As árvores vão perdendo os verdes vivos para evidenciar a silhueta enegrecida, as primeiras luzinhas vão se acendendo nas residências em penúltimo plano e aquela pipa em formato de coração continua voando pra lá e pra cá, por sobre aquela gradação de nuvens lilases e rosadas. Vez ou outra, passam ali pequenos passarinhos, voando em casais para fazer companhia à pipa solitária.
Eis que se pinta diante de mim este quadro em movimento, a luz vai diminuindo ainda mais e as cores já se transformaram. Não há mais laranja no céu, então minha pequena luminária carregada por energia solar se acende, ensinando a lição de que é bom guardarmos a luz dos dias ensolarados para quando escuridão houver. E surge também em mim, a poesia daquilo que é preciso para que a alma se alimente… e sorria.
Alma faminta faz cara feia dentro do corpo da gente, mas quando a alimentamos com o seu alimento favorito, ela sorri agradecida para – e com – nossa vida. Cada alma tem seus próprios alimentos, é uma tarefa filosófica elaborar uma dieta de acordo com cada alma.
Esses dias, conversando com uma querida amiga, ela contou-me que quase todos os dias, é alimentada por um passarinho simpático que vem visitá-la em sua casa. As visitas desse alegre passarinho alimentam a alma dessa mulher, talvez ele nem saiba (ou saiba, quem sabe…?!); mas ela lhe deixa sempre preparado aqueles potinhos com alpiste e água, para que também se alimente o corpinho desse passarinho que, tão doce, lhe alimenta a alma a cada visita.
Depois dessa conversa fiquei refletindo sobre quem é que alimenta quem… Naquela semana vi na rua uma moça que deve fazer parte daquelas ONGs protetoras dos animais abandonados. Ela estava trazendo ração e água para os cães vira-latas. E eu pensando: Quem é que alimentava quem? Talvez os cachorros alimentassem a alma da moça que lhes dava comida. Fez um curativo na patinha de um deles, entrou em suas casinhas na calçada, sacudiu os cobertores, havia gente passando, mas ela parecia nem ver, fez carinho naquelas cabeças de rabinhos balançando, despediu-se deles, entrou em seu carro e se foi. Como sou eu quem estou contando a história, vou dizer que ela saiu dirigindo, ligou sua música favorita e sentiu que sua alma havia sorrido por ter sido alimentada pelos cães da rua.
Por esses dias, precisei fazer um serviço de manutenção na casa e fiquei conversando com o instalador contratado. Ele me contou que tocava violino na igreja que ele frequentava, falou de como aquilo lhe alimentava a alma. Fiquei pensando que talvez as outras pessoas que frequentassem a igreja, ao vê-lo como músico tocando seu violino, nem imaginassem o quanto estava acontecendo um banquete para a alma do músico naquele momento.
O interessante é que quem alimenta a alma parece ter dificuldades para explicar como é o que acontece quando a alma está sendo alimentada. Você já conheceu alguém que costuma alimentar a alma? Que tipo de alimento você tem proporcionado para sua alma? Para aqueles que se consideram além do corpo, estou falando de alma no sentido metafórico, refiro-me àquilo que somos por dentro; veja se a sua alma não anda faminta de coisas que combinem com sua Estrutura de Pensamento.
Permita-se alimentar sua alma com aquilo que têm verdadeiramente a ver com você. São essas pequenas sobremesas para a alma que podem tornar a vida mais leve, a existência mais doce e, não se preocupe, porque a alma não engorda, ela apenas… transborda!