Signos – Maurice Merleau-Ponty
SIGNOS, Signes, 1960. Maurice Merleau-Ponty, 1908-1961.
Coletânea de ensaios filosóficos e de artigos políticos.
À primeira vista parece complicado falar de uma obra à qual faltam manifestamente características essenciais como unidade e coerência. Mas Merleau-Ponty, ao prefaciar Signos em 1960, não estava nada preocupado com a diversidade desses ensaios; só temia “ter falado alto demais”, sobretudo em política.
Em suas várias menções ao problema comunista (Indochina, 13 de maio de 1958, o pós-guerra europeu entusiasmado com o pensamento marxista), o filósofo reconhecerá seus “erros de prognóstico”, e o prefácio de Signos, verdadeiro testamento do autor de Fenomenologia da percepção, é uma oportunidade para expor uma nova visão da história. Esta não mais se mostra lógica, porém caprichosa, sem remorsos; “nunca se confessa”, e, embora lhe façamos perguntas completas, as respostas que
ela dá são lacunares e duvidosas. Portanto, Merleau-Ponty parece renunciar à filosofia da história: contra as doutrinas que oneravam a história com o peso da razão, de um projeto sob o qual ela acabava por desaparecer, ele parece propor – como confirmam Résumés de cours (1968) – a contingência da história diante de sua lógica.
São porém os artigos filosóficos que constituem o essencial da obra: daremos destaque aos que Merleau-Ponty dedica a seus “mestres”: Maquiavel, por um lado, e Husserl por outro, que, com sua fenomenologia da linguagem e, sobretudo, com A origem da geometria, influenciou consideravelmente a filosofia da expressão de Merleau- Ponty.
O artigo intitulado “A linguagem indireta e as vozes do silêncio” faz um apanhado bastante substancial disso. Esse “ensaio”, cujo texto, depois de reformulado, foi retomado em A prosa do mundo, e no qual se percebe o eco explícito do texto de Malraux (Vozes do silêncio, 1951), apresenta uma fenomenologia da fala, gesto de expressão criativa que, tanto quanto a pintura, revela o logos silencioso das coisas. Esse paralelo constante, entre a fala que só diz sobre o fundo de silêncio e a pintura que fala sendo muda, é a oportunidade em que Merleau-Ponty amplia seu campo de investigações e compreende o sentido da história cultural que reúne num único movimento todos os esforços de expressão: à história empírica, “historicidade de morte”, ele opõe a historicidade secreta, pudica, não deliberada, involuntária, viva.
Por conseguinte, Signos parece abrir para o leitor as duas perspectivas que foram do pensador. A da política primeiramente, pois, sendo bem mais que um editorialista comum, Merleau-Ponty nunca se contentou em pensar a atualidade política: ele a viveu dolorosamente e assistiu ao abalo das esperanças marxistas: em Aventuras da dialética (1955), ele voltaria a falar dessas dolorosas rupturas. A filosofia, como pensamento de nossa relação com o Ser, constitui, evidentemente, a segunda dessas orientações, e nela toma forma uma nova ontologia.
Edição brasileira: Signos, São Paulo, Martins Fontes, 1991.
Estudo: X. Tilliette, Merleau-Ponty, col. “Philosophes de tous les temps”, Seghers, 1970.