O Olho e o Espírito
O Olho e o Espírito
L’oeil et l’esprit, 1964.
Maurice Merleau-Ponty, 1908-1961.
Como diz Paul Klee, o pintor é um “filósofo sem saber”, pois a pintura é uma reflexão desprovida de idéias: mais próxima por isso do sentido espontâneo
do ser no mundo, ela é “uma apresentação sem conceito do ser universal”.
Merleau-Ponty vê no gesto do pintor a expressão de uma nova relação com o ser, a manifestação dessa “gênese secreta e febril das coisas em nosso corpo”.
A obra é, pois, a coisa visível a ver-se, ou a visão a fazer-se visível: ela é reflexão. A pintura não é, portanto, a cópia de algo que preexista a ela, pois o Ser não é nada a não ser estilhaçamento; ela é aquilo através do que se exprimem “as vozes do silêncio”, o logos do mundo mudo que é “a centelha do senciente-sensível”.
Segundo Sartre, esse texto “ diz tudo desde que saibamos decifrá-lo”. Obra complexa, portanto, que antecipa e lembra, mais que explicita, os futuros temas de O visível e o invisível (obra inacabada, Merleau-Ponty propunha-se lançar as fundações de uma ontologia do visível).
Estudo: X. Tilliette, Merleau-Ponty, Seghers, 1970.