Mitológicas – Claude Lévi-Strauss
MITOLÓGICAS, Mythologiques, 1964, 1967, 1968 e 1971.
CLAUDE LÉVI-STRAUSS, 1908-2009.
Lévi-Strauss entrega-se nessa obra a uma análise dos mitos para mostrar que, por trás da exteriorização aparentemente livre e espontaneamente criadora do espírito, há na escolha das imagens e em sua associação uma organização específica que, se não é racional em sentido estrito, nem por isso é irracional. Assim, os mitos aparecem como verdadeiros jogos de variantes lógicas baseados em relações de oposição, de transformação e de inversão (cf. o triângulo culinário cru, cozido e podre). A relação entre os diferentes títulos de Mitológicas com a alimentação ressalta os nexos entre o homem, seu corpo e o mundo. Lévi-Strauss parte de um mito para ampliar sua investigação a sociedades cada vez mais distantes: “Trata-se de uma excursão através das mitologias indígenas do Novo Mundo que começa no coração da América tropical e que nos levará até a América do Norte.” Os mitos dos índios bororos da
região central do Brasil servirão de fio condutor nesse projeto de conhecimento científico dos mitos, ainda que “jamais venha a existir população cujos mitos e cuja etnografia sejam objeto de um conhecimento
exaustivo”, pois cada progresso implica uma nova dificuldade a impedir o fechamento do saber. A análise dos mitos é difícil porque “as teses se desdobram ao infinito”, e o mito, existente no interior de uma significação multiforme, surda para nossa consciência, não conhece a unidade: “Assim como os ritos, os mitos são intermináveis.”
Lévi-Strauss depreende também o caráter comum do mito e da obra musical: ambos transcendem a linguagem usual. Segundo Lévi-Strauss, “a unidade do mito é projetada sobre um foco virtual que está além da percepção”, e sua pujança reside em sua secreta significação.
Estudo: Lévi-Strauss, revista L’arc, Duponchelle, 1990.