A Casa do Filósofo Clínico
Era uma vez uma casa na beira do lago, na qual morava um filósofo. Ele optou morar às margens do lago, por ser um local sereno e tranquilo. Já pensou se a casa do filósofo fosse edificada num lugar turbulento que não lhe trouxesse paz? Que tipo de filosofia seria ele capaz de construir?
Ele tinha um barquinho a remo, com o qual gostava de passear pela calma do lago, quando o filósofo parava de trabalhar, gostava de descansar navegando em águas tranquilas, isso lhe trazia paz.
O filósofo também apreciava caminhar pelo jardim, depois se sentava e admirava a paisagem. Havia algumas pedras pelo caminho, para que ele não se esquecesse, que assim é a vida, afinal… E embora ele gostasse de flores, encontrava beleza em todas as estações – e não só na primavera, – no momento era outono, as primeiras árvores começavam amarelar, os ciclos da natureza o lembravam que algumas coisas em nós também podem se transformar, tal como as árvores verdes que secam e perdem as folhas; mas não como quem morre, mas como quem adquire a sabedoria dourada outonal da maturidade e, se prepara para renascer e fazer brotar o novo, quando a primavera chegar.
Ao longe, ele via montanhas, meio que encobertas pelas nuvens, isso o fazia pensar que existe algo maior lá adiante, um lugar no qual o homem nunca havia estado ainda, como as montanhas que continuam no desconhecido, inabitadas e inexploradas. A grandeza do desconhecido que o filósofo olha de longe, como ao olhar para as montanhas, mostram que a Filosofia não está acabada.
A faísca filosófica está sempre crepitando. Por isso, dentro da casa havia sempre uma lareira acesa, o filósofo alimentava o fogo e nunca o deixava se apagar, para que com isso, ele se lembrasse de manter sempre acesa a chama da sabedoria em sua vida.
A fumaça que saía da lareira, fazia com que ele sentisse que o resultado da sua filosofia devia ser poético como uma fumaça que dança no ar. Ele sabia que mesmo que seus ensinamentos pudessem se evaporar facilmente feito fumaça, dada a sua natureza filosófica mais volátil, não havia outro meio de encantar, que não pela brisa sutil de fumaça que dança pelo ar. A fumaça voa ao vento, assim o conhecimento se espalharia e chegaria até os olhos de quem gostasse de ver coisas assim…
O filósofo escolheu morar em uma casa de pedra, para que sentisse sempre que seu lar era uma fortaleza, onde podia retornar toda vez que precisasse de aconchego. Ele mantinha também todas as luzes ligadas o tempo todo, para mostrar ao mundo que mesmo numa noite escura, existem pontos de luz na terra, inclusive quando as estrelas e a lua estão encobertas pelas nuvens.
A casa estava sempre perfumada, porque o filósofo gostava dos bons aromas, seja de flores, de café sendo feito, de comida gostosa sendo preparada, ou de fragrâncias especialmente preparadas para este fim. Cada vez que soprava um perfume, o filósofo se lembrava de como tudo pode se tornar uma boa inspiração para vida.
Sempre que ele fazia suas refeições, lembrava que a alma também precisa de alimento, como dissera outrora o Filósofo da Galileia há mais ou menos dois mil anos, que nem só de pão vive o homem…
Aquele filósofo gostava de alimentar a sua alma vendo auroras e crepúsculos. Neste quadro – um recorte do espaço-tempo – não se sabe dizer se era um alvorecer ou um pôr-do-sol, pois era ele quem decidia o que seria: quando ele terminava o dia grato com a sensação de missão cumprida, ele via o pôr-do-sol como presente de gratidão pela vida; quando algo não havia saído a contento, ele via uma alvorada como um presente de esperança, dizendo que haveria mais um dia e, ele então, se sentia grato por ter mais uma oportunidade.
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Dedicado a todos os Filósofos Clínicos e estudantes de Filosofia Clínica que comemoram o Dia do Filósofo Clínico no dia 08 de Julho, e em especial, ao professor Lúcio Packter, sistematizador da Filosofia Clínica, que me ensinou que imagens, como até mesmo quadros em uma parede, podem ser portais, janelas…