A filosofia do “não” – Gaston Bachelard
GASTON BACHELARD
A FILOSOFIA DO “NÃO”,
Ensaio de uma filosofia do novo espírito científico,
La philosophie du non. Essai d ‘une philosophie du nouvel esprit scientifique, 1940.
GASTON BACHELARD, 1884-1962.
Nem negativismo nem niilismo: o “não” da Filosofia do “não” designa a superação, por generalização dialética, de toda filosofia da ciência fechada em sistemas de axiomas, bem como a essencial abertura do pensamento científico, especialmente em três campos: química, física e lógica.
Bachelard começa com a crítica da noção clássica de substância: entre os dois pólos – realismo e kantismo -, o racionalismo dialético da noção de substância permite desenvolver uma filosofia de realização das matérias e de relativização das categorias. O substancialismo é assim condenado por seus próprios pressupostos.
Bachelard critica em” seguida a noção clássica de intuição: a partir de um exemplo extraído da microfísica, o da conexão espacial linear, o filósofo demonstra que a intuição primeira ou “natural” deve ceder lugar à intuição trabalhada, se quisermos compreender certas propriedades paradoxais da organização fenomênica. A incertezas complementares de Heisenberg são assim confirmadas pela concepção de propagação de Adolphe Buhl.
Por fim, o autor faz a crítica da dominação exclusiva da lógica aristotélica. Em ligação com as teorias físicas de sua época, em particular a de Heisenberg, Bachelard ressalta a pertinência da observação de lógicas não aristotélicas, como por exemplo de três valores. Qualifica de “degenerescência” (em ciência, “degenerescência” significa extinção de uma possibilidade de estrutura) a passagem de uma lógica de três valores para a lógica aristotélica bivalente.
Pelo estudo desses três campos – química, física e lógica -, Bachelard mostra o caráter incitativo da filosofia indutiva e sintética, que ele reúne sob o título “filosofia do ‘não”’. Esta serve de fundamento a um supra-racionalismo, que determina as propriedades de um supra-objeto, “resultado” de uma objetividade que do objeto só retém aquilo que nele criticou (o átomo, definido como soma das críticas sucessivas às quais foi submetida sua imagem primeira, constitui exemplo disso na microfísica contemporânea).
Edição brasileira: A filosofia do “não”, São Paulo, Abril, 1984.
Estudo: G. Canguilhem, “Dialectique et philosophie du non chez Gaston Bachelard”, in Études d’histoire et de philosophie des sciences, Vrin, 1983.