Tratado do Homem – Descartes
L’Homme qui marche I – 1960 – bronze Sucession Giacometti
TRATADO DO HOMEM, Traité de l’homme, 1662. RENÉ DESCARTES, 1596-1650.
Esse tratado, não publicado em vida de Descartes, é o segundo de uma obra que também incluía O mundo. Redigido no início dos anos 1630, numa época em que Descartes ainda não está de posse de seu sistema acabado, essa obra propõe os fundamentos do mecanicismo. O mundo tem o objetivo de destruir os conceitos fundamentais da física escolástica, de que Descartes, porém, conserva muitas afirmações. O Tratado do homem extrai as consequências do mecanicismo para a compreensão dos fenômenos biológicos, do corpo humano em particular. As funções corporais (circulação, respiração, motricidade) e as faculdades mentais (imaginação, memória) são explicadas de modo rigorosamente mecanicista.
Esse Tratado prenuncia assim o materialismo fisiológico do século seguinte (La Mettrie, Diderot, Sade), mas também a obra de médicos e filósofos do século XIX (Cabanis, Broussais). No entanto, é certo que, ao escrever O homem-máquina, La Mettrie já não é mais um cartesiano ortodoxo. Esses aspectos inovadores não devem levar a esquecer que o Tratado do homem também repete grande número de afirmações da escolástica, em especial a ideia de que o coração seria o órgão mais quente do corpo humano.
Estudo: F. Alquié, apresentação do texto na edição francesa: Traité de l’homme, in Oeuvres philosophiques de Ducartes, t. I, col. “Classiques Garnier”, Garnier, 1988, pp. 307 -13.