Fedro, ou Da beleza – Platão
Eros e Psique
Diálogo Fedro, ou Da beleza, O c. 375-370 a.C.
PLATÃO, 428/427-348/347 a.C.
Fedro trata de duas questões: amor e retórica, cujo parentesco pode não parecer evidente, mas cuja união esteja talvez justamente no centro do platonismo. Sócrates e Fedro conversam à sombra de um plátano, às margens do Ilissos; de todos os diálogos de Platão, esse é o único cujo ambiente é descrito com precisão, e um dos raros em que uma personagem (Fedro) é objeto de verdadeira caracterização psico
lógica.
O ponto de partida do diálogo é um discurso do retor Lísias, a quem o jovem Fedro devota desmedida admiração. A esse discurso, Sócrates opõe um arrazoado sobre o mesmo tema, a saber: valerá mais conceder favores a quem nos ama ou a quem não nos ama? (Esse diálogo, evidentemente, deve ser situado no contexto cultural grego, em que a homossexualidade desempenhava papel muito especial.) Como, em seu discurso, Lísias escolhia (paradoxalmente) a segunda resposta, Sócrates vai defender a primeira.
Mas Sócrates não poderia satisfazer-se em somar um discurso a outro discurso. Sua reflexão sobre o amor passará, portanto, por uma análise da alma humana. Aqui se encontra a célebre imagem da atrelagem alada: a alma é comparável ao conjunto formado pelo cocheiro e seus dois cavalos, um dócil e outro bravio. Essa imagem leva Platão a uma alegoria do conhecimento, da vida virtuosa, da própria filosofia. Platão explica por que nem todas as almas têm o mesmo destino: algumas, mais que outras, têm a capacidade de elevar-se para a região das essências eternas. Mas todas sentem aqui na terra o eco abafado da beleza ideal. Assim como O banquete, cujo prolongamento indispensável constitui, Fedro articula uma reflexão sobre o amor e a filosofia com a Idéia de belo.
O diálogo termina com uma crítica aos fundamentos da retórica, assim como da es-crita, à qual Sócrates opõe a palavra viva.
Estudo: B. Sève, “Phédre”, de Platon, col. “Lectogui-de- Philosophie”, Ed. Pédagogie Moderne, 1980.