Eu e tu – Martin Buber
Martin Buber, Photo by Paul Schutzer, Israel 1960
Eu e tu, Ich und Du,1923. MARTIN BUBER,1878-1965.
Obra mestra de Martin Buber. Esse texto inaugura a reflexão sobre o outro na tradição contemporânea.
O autor parte de uma análise do vínculo religioso. O homem está diante de Deus não como diante de um ser transcendente, mas face a face, num movimento recíproco em direção ao outro. Em oposição a certo tipo de judaísmo, Buber vê a relação com Deus como um encontro. Esse esquema constitui o princípio da reciprocidade na ordem
humana. A dificuldade principal analisada por essa obra é a coisificação, operação por
meio da qual eu reduzo o outro ao conjunto de suas determinações objetivas. A coisifi-
cação só é superada na conversão do movimento em direção ao outro. Na linguagem,
o índice desse movimento é o tu. A relação, a reciprocidade, é fundamento da auto-consciência.
Buber elabora sobre essas bases aquilo que se poderia chamar de teoria geral do diálogo. A uma forma autêntica de diálogo, fundada na presença recíproca e na doação
íntima de cada um, o autor opõe as formas aberrantes de diálogo. Os “diálogos de surdos” são instaurados no espaço do discurso técnico (em todos os lugares em que o vínculo social supõe a fala), e consistem em cálculos e ponderações que não ensejam
verdadeira reciprocidade. A negociação (política, social, comercial ) é exemplo concre-
to disso.
Segue-se um imperativo: superar o falso diálogo. Este não é intrinsecamente condenável porquanto já consiste na superação da violência nua e crua. Mas só constitui
uma etapa, e é preciso ir em direção à reciprocidade autêntica e à verdadeira presen-
ça do outro. Esse imperativo e essa experiência têm também o nome de amor.
As teses expressas nesse livro não ficaram apenas como matéria teórica, pois Martin Buber foi um defensor ardente do diálogo com os árabes em Israel.
Edição brasileira: Eu e tu, São Paulo, Cortez Moraes,1974.
Estudo: R. Mizrahi, Martin Buber philosophe de la relation, Seghers, 1968.