Fragmentos – Protágoras
FRAGMENTOS.
PROTÁGORAS DE ABDERA, c. 485-c. 411 a.C.
Protágoras
Os fragmentos da abundante obra de Protágoras reduzem-se a pouca coisa, mas Platão é uma fonte bastante rica de informações.
Primeiro dos “sofistas”, Protágoras professa um relativismo sem ceticismo, o que Eugène Dupréel chamava – não sem algum anacronismo – de “convencionalismo sociológico”.
“O homem é a medida de todas as coisas.” Levar essa fórmula a sério é aplicá-la a ela mesma e observar que seu sentido não poderia ser absolutamente determinado fora de interpretações subjetivas. Platão segue a pista dessa contradição interna para refutar o relativismo de Protágoras, mostrando que, em sendo verdadeira a fórmula, então também se tem o direito de dizer que ela é falsa. “O homem é a medida de todas as coisas”: isso significa que nada há que não seja pelo homem, ou seja, que tudo é artificial ou, se preferirmos, convencional. Não há valores em si, mas apenas por decisão humana, social. Não há universalidade, mas apenas comunidades.
Protágoras enfrentou problemas por ter escrito certo livro Sobre os Deuses. Condenado à morte, fugiu para a Sicília e morreu num naufrágio. No entanto, seus fragmentos não parecem professar diretamente um ateísmo radical, porém mais um agnosticismo: “Sobre os Deuses nada posso dizer, nem que existem nem que não existem.” Nisso havia, pelo menos em germe, a negação a priori de qualquer referência a uma transcendência capaz de fundamentar valores. O agnosticismo teórico de Protágoras equivale, na prática, a um ateísmo.
É preciso dizer algumas palavras sobre o famoso “Mito de Protágoras”, relatado por Platão no diálogo que tem o mesmo nome.
Nele se descreve o homem como um pobre animal nu, lançado no mundo sem ter o direito ao menor favorecimento por parte da natureza. Essa antropologia redunda numa apologia à organização social, à técnica e ao meio de sua transmissão: a educação – únicas armas de que o homem dispõe nessa luta desigual contra a natureza. Assim se fundamenta a tarefa que o sofista se atribui: educar os homens em conformidade com as convenções criadas pela sociedade na qual eles vivem.
Edição brasileira: Pré-socráticos, São Paulo, Nova Cultural, 1989 (Os pensadores).
Estudo: J.-P. Dumont, apresentação dedicada a Protágoras na edição Les présocratiques, Bibliothèque de la Pléiade, Gallimard, 1988.